Durante essa semana a Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande Do Sul divulgou materiais orientativos sobre a pandemia da COVID-19. Dentro desse material, chama atenção o que é descrito como a “Quarta Onda” da pandemia. O documento traz o seguinte texto: …”A Pandemia de COVID-19, causada pelo vírus SARS-COV2, é um fenômeno mundial de características ímpares, esse novo contexto indica preocupação com a chamada quarta onda, que envolve o impacto na saúde mental das pessoas e as demandas nos serviços de saúde. Diagnosticar precocemente os sinais e sintomas na população e trabalhadores e planejar ações de cuidado à saúde mental, é fundamental nesse momento”….
O guia segue seu texto relatando que pesquisa recente publicada pela Associação Brasileira de Psiquiatria realizada com os médicos psiquiatras , indica que 47,9% dos entrevistados perceberam aumento de até 25% nos seus atendimentos após o início da Pandemia; 67,8% receberam pacientes novos que nunca haviam apresentado sintomas psíquicos antes; 69,3% receberam pacientes que haviam recebido alta e tiveram recaídas; relatam aumento da sintomatologia ansiosa, de quadros depressivos, transtornos de pânico, alterações no sono. Os 44,6% que não perceberam aumento no atendimento, relatam ausências justificadas pelo medo de contaminação, diminuição da procura por pessoas do grupo de risco e restrições impostas em algumas localidades.
Quando pensamos em saúde mental num contexto de pandemia, percebemos que as reações mais frequentes são de medo (o desconhecido nos assusta). Entre as reações de medo mais comuns estão:
- Medo de adoecer e morrer;
- Medo de perder as pessoas que amamos;
- Medo de perder os meios de subsistência ou não poder trabalhar durante o isolamento e ser demitido;
- Medo de ser excluído socialmente por estar associado à doença;
- Medo de ser separado de entes queridos e de cuidadores devido ao regime de quarentena;
- Medo de não receber um suporte financeiro;
- Medo de transmitir o vírus a outras pessoas.
É esperado também a sensação recorrente de:
- Impotência perante os acontecimentos;
- Irritabilidade;
- Angústia;
Sentimentos como esses, acima citados, são esperados, em função de todo o contexto que estamos vivendo. Eles são desconfortáveis, difíceis de lidar mas, são normais e esperados. O que precisamos estar atentos é ao excesso e dificuldades que esses sentimentos podem estar causando, pois só assim é possível saber se o que se está sentindo é normal e esperado ou se está além do que deveria estar, necessitando assim de auxílio psicossocial. Deve-se estar atento para:
- Sofrimento intenso;
- Comprometimento significativo do funcionamento social e cotidiano;
- Dificuldades profundas na vida familiar, social ou no trabalho;
O recomendado nesse momento, para manter a saúde mental é:
- Buscar fontes oficiais e seguras de informação, por exemplo: Organização Mundial de Saúde, Ministério da Saúde, Secretarias de Saúde, Universidades; (informações falsas não contribuem para a prevenção).
- Focar em comportamentos preventivos que estão sob controle de cada um: lavar as mãos, manter distanciamento social, seguir rigorosamente as recomendações das autoridades de saúde;
- Manter o uso das medicações regulares;
- Evitar o uso de álcool e outras drogas;
- Cultivar os laços afetivos: aproveitar a convivência familiar. Manter contato com amigos por mensagens, ligações ou vídeos. Telefonar para alguém com quem não conversa há muito tempo;
- Evitar ler ou ouvir demais sobre o tema, notícias sensacionalistas ou que tragam ansiedade;
- Planejar uma rotina mesmo que fique dentro de casa: manter horários regulares para levantar e se deitar; manter os cuidados usuais e rotinas de alimentação; procurar realizar alguma atividade física (mesmo que dentro de casa);
- Se estiver em trabalho remoto, fazer pausas e se movimentar durante o período de trabalho.
- Não discriminar alguém que esteja doente. Ajudar com orientações para a prevenção de transmissão a outras pessoas é mais saudável;
- Buscar formas de ajudar a sua comunidade, incluindo familiares, vizinhos, trabalhadores. A solidariedade e a cooperação auxiliam os dois lados, e aumentam a satisfação e os vínculos sociais;
A mensagem mais importante que esse texto quer passar é a de que é natural e até mesmo esperado que você esteja com sentimentos de medo, insegurança, ansiedade e até mesmo tristeza; mas se você estiver em situação de sofrimento intenso, ou não estiver conseguindo lidar bem com os sentimentos que estão surgindo, busque ajuda profissional. Há profissionais e serviços disponíveis para atendê-lo nesse momento. A saúde mental é fundamental para uma vida saudável e só há qualidade de vida quando existe saúde mental.
Tomas Camargo
Psicólogo (CRP 07/23762)
Setor de Saúde Mental
Secretaria Municipal de Saúde